EMTREVISTA COMFIRA

25-10-2011 12:30

O tenente-coronel da Rondesp, Humberto Sturaro, declara ser um amante de sua profissão e aponta a violência como um mal cultural. Sobre o perigo, para ele é indiferente. Sobre os corruptos na corporação, são os que devem ser eliminados na carne. 

Casado e com dois filhos, o tenente-coronel Sturaro diz ser uma pessoa feliz porque faz o que gosta. “Venho de uma carreira de policial militar. Meu pai e meu tio foram coronéis. Tive este exemplo, gostei e aprendi a prestar um serviço de segurança pública. Eu digo sempre que quando entramos nesta profissão fazemos um juramento de garantir a segurança da comunidade e isso é uma dádiva. Acontece que, infelizmente existem pessoas que não trabalham pelo mesmo propósito. Como em outras profissões. Não só na polícia”.

Como o senhor ingressou na carreira militar e há quanto tempo?
Na nossa gestão, a polícia é buscada por uma carreira de funcionalismo público. No meu caso foi por amor. Já tenho 27 anos de carreira, mas parece que foi ontem. E sempre na atividade operacional. Depois do segundo grau, entrei na academia como aspirante. Fui tenente, primeiro tenente, capitão, major e hoje sou tenente coronel. Torcendo para ser coronel.

Como é o dia a dia do policial?
É difícil conciliar. Ter outra profissão, cuidar da saúde. A atividade policial toma muito do tempo do militar.

E o risco?  Com a violência na cidade o senhor não teme a sua segurança?
A gente não consegue temer o risco eminente quando enquanto prestamos este tipo de serviço. Até porque existe o dom em cada um e o meu é o comando. Que faço questão de que seja linear. E por isso somos uma equipe. Não é apenas comandar é mandar com. Para dar exemplo. E mostrar a que nos propomos.

E como sua família reagiu a sua opção profissional diante do risco que ela oferece?
Minha mãe não aceitou no inicio, mas tive o apoio de meu pai que sempre foi um modelo de homem. Em minha casa timos reunião de família. Então, quando eu chegava e contava como foi meu dia e relatava as operações policiais que vivenciava, minha mãe sempre se preocupava e pedia para que eu abandonasse a carreira. Mas eu vibrava com tudo. Tenho amor, porque sempre gostei.
E mesmo com todo o preconceito que há sobre a profissão de que policial é um caminho dos que não estudaram, não é o meu caso. Sempre busquei mostrar isso na pratica com amor e dedicação. Afinal, quem é louco de querer ser policial diante do risque que vive esta cidade. Tenho o don que busco me especializar em viagens e cursos.

E qual seria a raiz dessa violência em Salvador? 

 Nós viemos de uma cultura violenta. O exemplo disso são as canções de ninar como “a cuca vem pegar”, “atirei o pau no gato” e tantas outras. E no imaginário deste contexto ainda temos que ser super-heróis. Só que ele tem um super poder. Diferente do policial que combate o crime com o que tem. E isso nós temos que entender absolver e encarar. Infelizmente nós somos assim. Ou felizmente. Com este conceito comum de violência a população cresce, o poder aquisitivo também, e há aqueles que em seu coração preferem a facilidade das coisas.  E então ele pensa que é mais fácil tomar algo de alguém a quer batalhar para conseguir seus objetivos.  Isso vem de educação e oportunidade. Por mais que os governantes tentem trabalhar a educação em nosso país, falta a interação da família.

Há uma desigualdade neste combate? O policial tem recursos para enfrentar este mal que é a violência?
Todos os dias saíram para uma guerra. Nossa ferramenta de trabalho são armas apropriadas, viatura e colete. Os criminosos estão na ilegalidade e ele sabe contrabandear armas. Mas o policial não pode trabalhar com armamento ilegal. E por este motivo, a segurança pública tem investido em equipamentos. Na tentativa de equiparar. Mas, já passamos por muito sufoco. E estamos evoluindo muito. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), em contribuído para este desempenho com cursos e qualificação, mas o policial deve mostrar que está cumprindo o seu papel para que as condições de trabalho sejam melhoras.

O senhor acredita que houve esta melhoria nas condições da unidade policiais?
Hoje, as unidades operacionais estão em vantagem na reformulação das companhias de policia. É mais fácil equipar uma menor unidade e contar com ela, a que um batalhão inteiro, e não ser eficiente nesta. Mas, o policial é o fim para que as coisas aconteçam. Se houver trabalho haverá condições para trabalhar.

Falando em condições de trabalho e valorização do profissional, como o senhor avalia a nova estratégia do secretario de segurança pública que sugere um abono salarial em troca de redução no índice de violência na cidade onde ele oferece uma quantia que poderia se equiparar a um 14º salário. Seria uma substituição da PEC 300 que tramitando no Congresso e propõe equiparar os vencimentos das Policias Militares e Bombeiros Militares de todas as unidades da federação com os praticados hoje pelo Distrito Federal, tão aguardada pelos praças, que já vêem a medida como barganha?
Eu sou policial e vivo disso. Claro que sou a favor da PEC 300, mas não é tudo que queremos podemos ter.  Entretanto, defendo que se eu estivesse insatisfeito procuraria outra profissão.  Ou algo buscaria algo que acrescentasse à minha renda.  E o que o secretario busca com isso é estimular o trabalho do militar. Não é barganha. Temos que baixar índices. O secretario questiona o que falta para que o serviço tenha êxito. Mas sempre há aquele que não vai agradar.

E como lidar com esta condição diária?

Já há uma unidade que cuida do psicológico do policial. Cabe ao comandante avaliar se o profissional está preparado para determinada função. Somos proativos, não esperamos as coisas acontecerem. Estamos em constante situação de risco e lidamos com isso todos os dias. E é na tentativa de resolver o problema na eminência do risco que muitos surtam. Por isso, a importância de nos protegermos e amarmos o que fazemos. Para ter cautela na ação.

E nesta contínua busca do acusado, para identificar o suspeito há um estereótipo que antecede a abordagem?
Não há isso. Temos que identificar o indivíduo. Mesmo em áreas nobre há pessoas de índole duvidosa. Independe. Não podemos adivinhar. Mas, na abordagem temos que ter segurança. E esta ação de as vezes assusta. E quando o cidadão não aceita, há o choque. Mas o policial não está acima da lei.  E tem gente que acha que por ser policial pode tudo.

Qual o retrato das operações policiais em Salvador? O que é mais comum nas ruas?
É preciso que o cidadão lembre que são responsáveis por seus atos. E é muito comum, principalmente entre as mulheres o consumo de entorpecentes. Como por exemplo, o lança perfume que elas dizem curtir apenas o momento. Do jeito que as coisas estão o jovem não busca preservar a própria vida. A polícia não pode estar em todos os lugares.  

E o que falta para melhora a segurança em Salvador?
Sempre faltará alguma coisa. Seria ótimo se fossemos onipresentes. O cidadão terá resposta disso com a mudança no conceito da segurança. Medida que já vem sendo tomada. Porque não adianta bons equipamentos sem preparação. A polícia esta integrada e estamos buscando melhorias. O policial sai do meio, o problema na índole do militar não é da secretaria de Segurança. Temos quadros de policiais que foram afastados por não corresponderem ao lema da polícia. Estamos cortando o mal na carne.